terça-feira, 6 de novembro de 2012

Altius Citius Fortius

"...
Em todas as actividades tento fazer o melhor...  O mínimo que nos é exigível é o máximo de que somos capazes."

Manuel António Pina



A realidade é uma hipótese repugnante
Fora de mim. Entrando por mim a dentro.
Solidão errante.
Orfã de centro.

Que resposta vos darei,
coisas, se tudo é demais;
se em vós procurei
o que em mim procurais.

Um espelho, um olhar
onde me ver,
um silêncio onde escutar
as minhas palavras, algo como uma vida para viver.

Se estais também sós
assustadas e hostis
como eu em vós?

Manuel António Pina



( evocação, de cor, memória; espero ter acertado) 

sábado, 3 de novembro de 2012

Deceção

Não sem assombro e perplexidade, este cidadão sem direitos, que eu sou (um agricultor multidisciplinar que também pinta); vai percebendo como através de meios técnicos invulgares, se praticam as mesmas violências na mesma humanidade de sempre; renova-da na carne, na realidade, a aparente; mas não na sua natureza.
Mas,... afinal;... não tem nada que saber.
Nem há segredos bem guardados.
É sempre a mesma infâmia( e Sandro B. bem a pintou), tão ostensiva que até parece que é gente; tão risível que equivale, por defeito, a um prazer mesquinho; mais pequenina ainda, que  o prazer pequenino... Uma desrazão sem tino multiplicada por mil para parecer maior e orgânica, quando é, isso sim; amorfa, disforme, horrenda, como seus protagonistas desapossados de si próprios,"desempregados de suas vidas".
No caso pessoal deste escriba furioso, há quem se faça passar por ele e escreva no Facebook, em seu nome, não importa sequer o quê. Outros, convocam mobs instantâneas para leituras dramatúrgicas,e não deixa de ser patético quão numerosa é a gente que se presta para tais exercícios asfixiantes, subtilmente coercivos.
São os mesmos que com meios invulgares fazem propaganda a uma condição humana abjecta, de ruminantes capazes de urdir uma metamorfose do maligno que pelos vistos, fascina não pouca gente. São camaleónicos! 
Haja o que houver, vá-se por onde se for, sob o negro, sob o azul sob o branco, não deixarão de ser camaleões, principalmente para os seus iguais, os primeiros a serem comidos quando lhes vier a fome vã de todo o poder.
Porém; como posso manter a compostura perante tantos exercícios violentos? Tantos e maquiavélicos assédios de gente tão bela?... Tanta torpeza?...
Este descendente de agricultores prefere não per-tencer a essa turba que aposta a vida na pretensa indignação, uma gravata que serve bem nas exéquias das suas vítimas.
São boas figuras e bem falantes mas apreciam demais pequenos e insatisfatórios prazeres, infelizes "rapidi-nhas".     
Não vejo outro remédio senão, avisado, naïve; resistir, recordando as palavras de Brecht:
" E contudo nóa sabíamos:
Também o ódio contra a vilania
Desfigura as feições.
Também a cólera contra a injustiça
Enrouquece a voz."

"Ai, nós! Que queríamos amanhar o terreno para a amabilidade
Não podíamos nós mesmos ser amáveis
Mas vós, quando chegar a hora
Em que o homem possa ajudar o homem
Pensai em nós
Com indulgência."

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Dizia o "Balsas":
"- Para quê os barracões concentracionários dos campos de extermínio?
  Para quê tantos guardas?
  Hoje, bastam umas quantas câmaras a controlar a    malta que continua distraída e reunida onde não é precisa.
  Observam as nossas belas mulheres, os diletos filhos dos outros, os nossos lábios dizendo coisas mudas... "
Eu,... aqui e agora, sem qualquer pânico; a recordar aproximadamente, um tetemunho com mais de vinte anos...
Que é feito dele? um tipo desastrado mas leal.
João Pedro Garabato Dias pensou de modo semelhan-te, já em 1982; quando escreveu o "inquietante" " É a hora da besta".
                       Dizer-se:-"Ninguém consegue mudar o mundo!", além de ser uma frase gasta e feita, até parece ser uma frase lapidar e universal. Alguém diria que é um intolerável acesso de presunção achar que se consegue mudar o mundo; esse mundo que con-fundimos connosco; afinal, a fração mais vulnerável do Todo.
                        Não há-de ser sem alguma relutância que pode identificar-se um determinismo involutivo, tão involutivo que determinou que Jesus Cristo, que ousou tentar mudar os Homens (esse edifício bioló-gico e cultural por excelência); fosse inevitávelmente crucificado.
                        Tornou-se intolerável aceitar outra alternativa,...quando havia tantas.
                        Hoje, permanece em vão; crucificado diante de nós e quantos vibram com perversas fre-mências ao contemplar a representação das chagas e do sangue escorrendo, sentindo uma estranha mistu-ra catártica, onde estão implicados, quantas vezes?  um certo contentamento por estar Ele na cruz e não nós, e uma cómoda complacência; um suspeito êxta-se  devocional e falso.
                        A comunhão e, à falta de melhor pala-vra, a solidariedade; são, serão sempre,  experiências raras.
                       Tão raras, são também as "pietás"  apaziguadoras e afectuosas ou a ressureição; essa representação ascensional do mergulho exemplar do "Filho do Homem" no transcendente; um modo sim-bólico da evocação e apelo à prática dos mais ele-mentares preceitos fundacionais de uma Humanidade.
                        E há tantos cristos, tantos mártires,...
                        Digam-me lá, se qualquer miraculosa cirurgia sucedida, não representa mudar! todo o "mundo"? uma vida? um mundo que podia ter outra indesejável história?
                        Tantos!... quão ingratos são!
                        Que procuramos na pouca justiça que vamos conseguindo, senão alterar o curso da injustiça?
                        Dir-se-ia que a norma é a plasticidade da humanidade,no curso sinuoso das eras, levada ao "ombro por gigantes", essa minoria de sábios que carregam ao longo de milénios uma sabedoria extra-ordinária, que a esmagadora! maioria não pôde recusar, mesmo "crucificandoos" na ara do tempo; porque Eles voltam sempre, os melhores; sob  reno-vadas formas, nada mudando no conteúdo.São esses e só esses, que têm retardado a trágica caminhada para o abismo que a evolução técnica pode precipitar.
                        A norma é, em todos nós mudar;  elaborar decisões instantâneas o mais ajustadas pos--sível a cada instante, modelando o presente;  preve-nidos contra todo o egoísmo exacerbado que nos tor-na hostis e desviados.
                        Não tentar " mudar" o mundo é, tal-vez, a máxima vaidade e soberba de pensar só em nós, indiferentes; como se estivéssemos sós! "Coisa" de situações precipitadamente extremas que muitos teimam em fazer regressar.
                        E não havia necessidade.
                       
                       

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

                                 Urze

Uma agitação grave e lenta
vibra em suas pálpebras,
cansadas de orvalho.
Fez-se assim; de instantes demorados,
à flor dos lábios quietos,
gomos fechados na ternura.
É uma figura sem o mistério
que só por medo os outros pensam.
Sua substância é um magma,
ígneo leito fascinante.
Não se sabe e menos se tolera,
como; de uma tal fusão,
de tantas químicas dores,
conseguiu fazer-se raro cristal,
quase puro, todos os dias.
Só o oráculo sabe a clara razão:
A longa agonia e a branda virtude
de estar só.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Pintar é um epifenómeno de viver; a Arte, uma aspiração de toda a vida!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O pernicioso rumo da economia alimentar compromete de modo indisfarçado, a auto suficiência de alimentar de todo o corpo social.
O abandono das terras e do seu cultivo, reverte para todos sob a forma de falta de suprimento de uma tão evidente necessidade básica.
A migração para os meios urbanos, que se desertificam ao crepúsculo, culmina na dissolução da miragem que nos levou lá.
A emigração rouba gente em todo o lado e livra, quantos dotados? de uma servidão abusivamente requerida por tantos insensatos empregadores. Já fora assim nas outras vagas emigrantes dos portugueses. Não é só a busca de melhor salário;  há de ser também a tentativa de recuperação de direitos perdidos que leva ao exílio.
Estamos a ficar velhos, falta gente e, principalmente; falta produção.
A auto-subsistência alimentar é prioriária; tal qual a energética.
A importação de produtos alimentares tem em nós, o subtil efeito, de descurarmos cada vez mais a produção interna.
Faltam-nos produtos autóctones!
Faltam-nos produtos que se tornaram fundamentais na nossa alimentação, desde que os trouxemos da América do Sul!
Faltam cereais!
À revelia de qualquer cálculo de custos ou regulação de preços, sabemos que é assim!
Os produtos importados custam um altíssimo preço de  que nem todos suspeitam.
Os produtos são expedidos ao preço da chuva, mas; não contamos com as toneladas de fuel consumidos nas travessias trans-oceânicas, o peso dos gases, a tonelagem obscena das naves, mesmo vazias; entre outras variáveis.
As provisões escasseiam devido a vários factores; 10 milhões de factores,... desde o desinteresse, até ao "desincentivo" (desinvestimento), passando pela falta de saúde em tantos de nós.
Perdemos todos!
Não é fácil de aceitar.
E,... cá vamos nós, cantando, noutras línguas que não a nossa e rindo cada vez menos; sem pensar o suficiente em nada, nem nas imensas descargas poluentes feitas na alta atmosfera, porque não as vemos nem cheiramos, e, reagindo de modo canhestro, continuamos a ver passar os aviões.